martes, 21 de mayo de 2013

Guardar e servir






No inicio oficial do seu ministerio (19/III/2013), aproveitando a vida de São José, o Papa Francisco explicou como o entende, no contexto de algo que corresponde a todos: "guardar" e "servir". O ministério do Papa está ao serviço da vida cristã. A vida cristã está ao serviço de todos e do mundo criado. E cada pessoa encontra também aí - no cuidado e no serviço - o sentido da sua vida: proteger os dons de Deus, algo que só se pode fazer com amor.


A missão de San José e a nossa

A missão de San José (cf. Mt 1, 24) serviu de arranque, depois de referir o onomástico de Bento XVI: "Estamos junto dele com a oração, cheia de carinho e gratidão".
San José foi guardião: " Guardião de quem? De Maria e de Jesus, mas é uma guarda que depois se alarga à Igreja, como sublinhou o Beato Joaão Paolo II:: «São José assim como cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho jubiloso à educação de Jesus Cristo, assim também guarda e protege o seu Corpo místico, a Igreja, da qual a Virgem Santíssima é figura e modelo”. ' (Exort. ap. Redemptoris Custos, 1).

Continua o Papa Francisco perguntando: "Como vive José a sua vocação de guardião de Maria, de Jesus, da Igreja? "Numa constante atenção a Deus, aberto aos seus sinais, disponível mais ao projeto d’Ele que ao seu. (…) Sabe ouvir a Deus, deixa-se guiar pela sua vontade e, por isso mesmo, se mostra ainda mais sensível com as pessoas que lhe estão confiadas, sabe ler com realismo os acontecimentos, está atento àquilo que o rodeia, e toma as decisões mais sensatas. (…) Ele responde à vocação de Deus: com disponibilidade e prontidão".

(Aqui se pode ver como San José põe em prática um verdadeiro
discernimiento da vontade de Deus, no sentido em que o Concílio Vaticano II fala dos "sinais dos tempos". Isto é, os sinais da ação do Espírito Santo que são percebidos quando se olham os acontecimentos com fé e realismo, como ponto de partida para poder avaliar a situação em causa e tomar a decisão de agir em consequência, tanto do ponto de vista pessoal, como também eclesial, (cf. Gaudium et spes, 4, 11 e 44).

O Papa observa que, ao mesmo tempo, em San José "vemos também qual é o centro da vocação cristã: Cristo". E, por isso, convida-nos: "Guardemos Cristo na nossa vida, para guardar os outros, para guardar a criação!".


(E esta é uma escola para os cristãos, especialmente para os educadores e formadores).


Guardar, tarefa de todos, começando por si mesmo

Mas guardar - avisa o Papa Francisco - é vocação de todos: todos devemos proteger a beleza das realidades criadas (aqui, a evocação de São Francisco de Assis), cuidar as pessoas que nos rodeiam, “especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração". Todos temos de cuidar de familiares, dos cônjuges, dos pais e dos filhos, dos amigos. "Sede guardiões dos dons de Deus!", aconselha-nos; porque, de facto, tudo é dom. Se falharmos nisto - diz - avança a destruição e o coração fica ressequido.

Se guardar é responsabilidade de todos, e assim o compreendem e praticam as pessoas de boa vontade, é-o especialmente para "quantos ocupam cargos de responsabilidade em âmbito económico, político ou social". Devemos cuidar da natureza criada por Deus, do meio ambiente. Mas temos que começar por nós mesmos: "para «guardar», devemos também cuidar de nós mesmos. Lembremo-nos de que o ódio, a inveja, o orgulho sujam a vida; então guardar quer dizer vigiar sobre os nossos sentimentos, o nosso coração, porque é dele que saem as boas intenções e as más: aquelas que edificam e as que destroem. Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura"; não é virtude de fracos, mas de fortes, como San José.

De facto. Daí a importância de examinar a própria consciência juntamente com uma boa formação. E se um sentimentalismo não-integrado com a reflexão e a formação cristã pode produzir estragos, também os produziria uma educação racionalista ou voluntarista que não integrasse os sentimentos e as suas adequadas, e necessárias manifestações.
Assim o propõe Dietrich von Hildebrand, na sua obra “El corazón: un análisis de la afectividad humana y divina” (Palabra, Madrid, 2009).


O sentido do ministério do Papa

Em seguida, o Papa explicou em que consiste o poder que comporta o ministério petrino: " Não esqueçamos jamais que o verdadeiro poder é o serviço – assim se intitula um dos seus livros - e que o próprio Papa, para exercer o poder, deve entrar sempre mais naquele serviço que tem o seu vértice luminoso na Cruz". Assim é o poder do amor.
Também o aprendemos de San José.

E assim deve ser exercido o ministério do Papa: “Deve olhar para o serviço humilde, concreto, rico de fé, de São José e, como ele, abrir os braços para guardar todo o Povo de Deus e acolher, com afeto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, aqueles que Mateus descreve no Juízo final sobre a caridade: quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu, doente, na prisão (cf. Mt 25, 31-46)”. E conclui com uma outra lição: "Apenas aqueles que servem com amor são capazes de proteger”.


Levar o calor da esperança

Na última parte, fez um apelo à esperança em que Abraão se apoiou (cf. Rm 4, 18). "Também hoje, perante tantos pedaços de céu cinzento, há necessidade de ver a luz da esperança e de darmos nós mesmos esperança. Guardar a criação, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança, é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da esperança! E, para o crente, para nós cristãos, como Abraão, como São José, a esperança que levamos tem o horizonte de Deus que nos foi aberto em Cristo, está fundada sobre a rocha que é Deus”.

Este é o seu modo de explicar esse título do Papa que remete, pelo menos, para S. Gregório Magno: "Servo dos servos de Deus".


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